quarta-feira, junho 20, 2007

Mário Soares: « PS tem de ir ao encontro das aspirações populares»

A Universidade de Verão, promovida pela Federação Distrital de Setúbal do PS e liderada pelo deputado Vítor Ramalho abordou vários painéis temáticos abrangendo questões relacionadas com a Educação, Qualificação, Saúde, Emprego, Desenvolvimento Local e Regional, Acessibilidades e Mobilidade.

No encontro, em que participaram cerca de três centenas de militantes socialistas, Mário Soares salientou a necessidade de um «partido mobilizado» para fazer face aos desafios que se colocam ao governo nos últimos dois anos de mandato.

O fundador do Partido Socialista começou a sua intervenção recordando que “o distrito de Setúbal sempre foi de esquerda” e o socialismo vai voltar a estar em moda e com força.

“A palavra socialismo não está hoje muito em moda, há que reconhecer isso, mas não é preciso ser profeta, para vos garantir que mais ano, menos ano vai voltar a estar em moda e com força”.
Sublinhou que “basta compreender o estado em que se encontra o mundo”, as desigualdades a que conduziu a globalização desregrada, “para se perceber o que aí vem: descontentamentos em cadeia, revoltas contra as gritantes desigualdades sociais, confrontações, conflitos, quem sabe mesmo inesperadas revoluções”.

Mário Soares defendeu que o «Socialismo do Futuro» passa por «manter o contacto com a base social de apoio do partido - os mais desfavorecidos, os mais pobres, os excluídos, desempregados, imigrantes, mas também com as chamadas classes médias em vias de crescente empobrecimento e desesperança, com os jovens, os idealistas e os intelectuais».

O ex-presidente acrescentou que é preciso «reduzir as desigualdades sociais, de modo a libertar as pessoas comuns do medo do futuro, no que respeita ao emprego, à doença, à velhice e às consequentes pensões de reforma, mas também à perda ou à adulteração das liberdades conquistadas no plano cívico».

No plano internacional, Mário Soares reconheceu os ventos não têm soprado a favor do socialismo devido às políticas neoliberais que têm sido seguidas em todo o Mundo, mas afirmou-se convicto de um novo ressurgimento face a uma cada vez maior concentração da riqueza e consequente agravamento das desigualdades sociais, que está a provocar o descontentamento das populações.

«Não me admiraria nada que um vento de renovação surgisse de onde menos se espera - do outro lado do Atlântico, da América -, em favor do socialismo, ou, se quiserem, de um certo modelo social avançado e da liberdade», disse Mário Soares.

«As pessoas lúcidas e bem formadas não podem resignar-se a viver em condomínios de luxo, defendidos por mercenários armados até aos doentes, rodeados por populações em revolta, mais ou menos famintas e carentes de tudo o que faz a dignidade da vida», acrescentou o ex-Presidente da República.


Mário Soares afirmou também que depois do esforço desenvolvido para reduzir o défice orçamental, «o PS tem de ir ao encontro das aspirações populares e realizar uma boa presidência europeia» na segunda metade do mandato

«Conseguimos reduzir o défice para os limites que a comunidade impõe e agora, nesta segunda fase, é preciso dialogar com as pessoas, porque houve descontentamentos que foram criados e que ninguém pode negar», disse Mário Soares, confiante de que o governo de José Sócrates também irá fazer uma boa presidência da União Europeia.

«A presidência portuguesa vai começar muito bem, porque (o governo português) conseguiu realizar, pela primeira vez, uma cimeira entre a União Europeia e o Brasil, por proposta do governo português. Isso é algo de importante para o Brasil e para as relações entre os dois países», acrescentou o ex-presidente da República.