quarta-feira, agosto 30, 2006

Blitz

Algo que os arautos da guerra de civilizações entre o Ocidente e o mundo Islâmico gostam muito de proclamar é a sua condição de "Churchill's" modernos, chamando a atenção do inocente mundo Ocidental contra uma ameaça crescente no Ocidente. A sério, olhem aqui Rumsfeld a fazer isso mesmo. É uma linha de raciocinio muito sedutora, que fará muito boa gente pensar "e se de facto estivermos a apaziguar monstros?". Infelizmente esquecem-se os Rumsfelds deste mundo que não estamos a tratar com um ditador fanático, mas sim com vários povos e várias culturas, dentro do mundo Islâmico. E ao criar a nova designação de "Islamo-fascistas" os pequenitos Rumsfelds deste mundo conseguiram colocar no mesmo saco qualquer coisa como 2000 milhões de seres humanos - onde a maioria é moderada, e dividida entre si. Não tem uma liderança centralizada num partido Nazi, no máximo tem Wahabistas (mas esses são os nossos amigos da Casa de Saud). Não tem um exército com que nos possa invadir e derrotar (é mais o contrário, olhem para o Iraque). Alguns desses muçulmanos têm um instrumento, o terror, com que procuram avançar as suas agendas. E de facto, essas agendas envolvem.. matar-nos a todos. Mas há que saber analisar as coisas friamente: São perigosos para nós, mas não mais fortes que nós. Podem matar muitos de nós, mas se esse for o preço de sermos livres, haverá que o saber pagar (já venho aqui). E a melhor maneira para os derrotar nem sequer é enfrentando-os à Cowboy, mas sim apoiando os moderados dentro do mundo Islâmico; Não teria a história sido muito diferente se tivesse havido a lucidez de apoiar a República de Weimar?

Mas não é isto que os pequenitos Rumsfelds pensam, não. Eles pensam é num nome interessante para os seus inimigos, um que fique bem num discurso onde se agita a multidão contra o inimigo comum, o desumaniza, se lhe retira qualquer motivação para o converter num alvo a abater. Não interessa que as pessoas raciocinem, não podem raciocinar. Não podem ser Árabes revoltados contra o apoio Ocidental que é dado a Israel ou a regimes Árabes ditatoriais, não. Têm de ser "Islamo-fascistas", todos. Os que são de facto taradinhos, e os que são algo mais.

E querem saber porque é que os pequenos Rumsfelds criaram esta nova designação de "Islamo-fascista", e vos farão sentir mal por procurarem entender e explicar as reacções do mundo Muçulmano, porque vos chamarão de apaziguadores, de traidores, entre outras coisas?

Creio que este excerto de uma entrevista de Goering antes de ser julgado será uma boa resposta:

Göring "Why, of course, the people don't want war. Why would some poor slob on a farm want to risk his life in a war when the best that he can get out of it is to come back to his farm in one piece. Naturally, the common people don't want war; neither in Russia nor in England nor in America, nor for that matter in Germany. That is understood. But, after all, it is the leaders of the country who determine the policy and it is always a simple matter to drag the people along, whether it is a democracy or a fascist dictatorship or a Parliament or a Communist dictatorship."
Gilbert: "There is one difference. In a democracy, the people have some say in the matter through their elected representatives, and in the United States only Congress can declare wars."
Göring "Oh, that is all well and good, but, voice or no voice, the people can always be brought to the bidding of the leaders. That is easy. All you have to do is tell them they are being attacked and denounce the pacifists for lack of patriotism and exposing the country to danger. It works the same way in any country."

Quem pensa é quase sempre contra um conflito. Somos inimigos dos Rumsfelds porque pensamos.

PS: E se algum conservador insistir em chatear-vos, podem sempre lembrar-lhes que Chamberlein era tambem ele um conservador :P